quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Só quero um livro na mesinha de cabeceira

Entrar no quarto. Apagar todas as luzes. Guardar uma vela que ilumina. Deixar a roupa deslizar pelo corpo até cair levemente. Enfrentar a nudez harmoniosa. Olhar pelo canto da janela. Ouvir a Lua a segredar. Sentir a energia das estrelas. Observar as cortinas a tremer. Deitei-me em cima dos cobertores. Imaginei a pintura gravada na parede à minha frente. Liguei a aparelhagem. Suavemente fui ouvindo o ritmo que me envolvia. Rasguei o ar com brutalidade. Apareceste. As mãos falaram por si, num só toque. Abraçamo-nos no colchão. Desviaste-me o cabelo. Pintaste a minha personalidade e sorriste. Dei-te um beijo. Percebi que aquele tinha sido o nosso momento. Deitamo-nos de mansinho. Muito próximos. Muito cúmplices. Sentimos o virar de uma página. Ficamos ali. Simplesmente. A vela desvaneceu.

Ter um livro na mesinha de cabeceira, qualquer um o pode ter. Saber lê-lo, não é para todos. Ir virando as páginas tranquilamente é difícil, mas assim se aprende a viver.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Só quero um café quente pela manhã

Acordar e sentir o calor de alguém. Abrir a janela e deixar-me ficar a sentir a brisa. Um pássaro há-de pousar e cantar, uma folha há-de cair no rebuliço. Descalça e com pés de cinderela, percorro a casa. Sento-me no jardim na cadeira de embalar. Sinto a Natureza e a paz envolvente ao contemplar o lago que fica à minha frente. (Nada. Ninguém. Só eu e os meus desejos). Entro em casa e acendo a lareira. Deito-me no chão com o lápis e papel. De relance a presença de um ser é sentida. Os meus cabelos deslizam pelas costas enquanto brinco aos sorrisos. O olhar faz o pedido para que fique ali bem perto. O convite está feito. Ficamos os dois ali. Simplesmente a viver. Simplesmente a imaginar. Simplesmente a sonhar. Não queremos saber porquê. Só queremos abraçar a madrugada e deixarmo-nos levar.

Cada um de nós tem um pacote de açúcar para desfrutar. Fará mal? Não podemos ter medo de experimentar algo novo no nosso café da manhã. Viver, somente viver!
quero voar
pedir ao céu
o sopro de uma canção

suave e leve
como anoitecer

estrelas que sussuram
enquanto a lua me conta como está
ou quer estar
e não está

escuto o silêncio da conversa
como é bom velejar pela noite dentro
com um amante
a minha eterna e fiel companhia

envolvida no vazio dos pensamentos
singela e doce vida
abraçada amanhã...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

quero imaginar que sou o que digo
e a minha mente brilharia
como as estrelas do céu.

mas as estrelas já não brilham
e eu não sei quem sou.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Olhar para o infinito e deixarmo-nos sorrir. A quem não aconteceu isso? É belo. É delicado. É simples. É humano.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Just Perfect

Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca da nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingências do que acontece.

Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uma caixa de desejos que tenho guardada dentro de mim

Acordar e sorrir. Abanar os cabelos molhados. Dar uma cambalhota. Pôr o rádio no máximo. Cantar espontaneamente. Fazer caretas. Pular em cima da cama. Dar um beijão. Dizer adeus a alguém que passa. Ficar de janela. Tomar um banho quente com espuma. Deitar ao pé da lareira. Viajar em sonhos. Comer gelatina e lamber os dedos. Derramar um balde de água por cima de nós próprios. Olhar ao espelho. Embalar um bébé. Mamar no dedo. Chorar de alegria. Dar um abraço. Contar uma história. Cheirar uma flor. Dar um mergulho no mar. Escrever na areia. Passear o cão. Imitar os pássaros a voar. Caminhar de mão dada. Colher uma laranja. Beber chá de canela. Puxar os cabelos. Comer gelado. Apontar o secador para alguém. Tirar fotografias. Ver o pôr do Sol. Sentir o Vento. Contemplar as estrelas. Falar com a lua. Escrever uma canção. Olhar nos olhos de alguém. Falar no silêncio. Guardar um segredo. Pintar uma parede às cores. Experimentar a liberdade de viver.

Esta é a sensação de que sermos loucos é completamente gratificante.
Mistério de caminhar sem saber para onde vou...

sábado, 10 de janeiro de 2009

O meu poema

Um sorriso meigo acalma-me o espírito. Por isso, passo a vida a sorrir. Não me importo de transmitir um acto de ternura e fazer estremecer a interioridade de alguém.

Vou passeando e transportando uma calma que me permite disfrutar de todas as sensações que os meus sentidos captam. Os ouvidos ouvem o som da Natureza. O nariz cheira a sua frescura. Os olhos vêem o que o coração sente. As mãos imaginam a beleza de um carinho. A boca saboreia as palavras pensadas.

Envolvo-me num abraço imaginário que me dá tudo o que consigo receber. Fico parada para poder apreciá-lo e memorizá-lo para sempre recordar. Sonho perdidamente e sem qualquer limite.

Não sei escrever poesia, mas este é o meu poema!