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Ela olhava para mim. Os seus olhos claros brilhavam. Aquele tom azulado metia-me medo. Via de longe. Abandonada. Sozinha. Tal como vemos o horizonte e queremos chegar a ele, eu queria chegar a ti. Mas não sabia. Estavas ali, lá, além. Escondias-te em ti mesma. Pensei em libertar-te. Acelerei o passo. Aproximei-me. Com calma. Encolheste-te. Agarraste-te em ti própria. Estavas com medo de te libertares. Analisei o teu rosto coberto. Contemplei os traços do teu corpo. Ali estava ela. Que náusea. Que angústia. Baixei-me. Ficámos frente a frente. Continuavas frágil. Olhei-te. Derreti-me com a tua disponibilidade. Quis tirar-te o pano que te envolvia a face. Não tive coragem. Ias ficar ferida. Eu não queria isso para ti. Sorriste delicadamente pela primeira vez. Senti-me correspondido. Não quis incomodar-te mais. Levantei-me. Com ternura encarei o que me transparecias. Continuei a linha da minha vida. Ao caminhar apeteceu-me olhar para trás. Ver-te mais uma vez. Quando o fiz já não estavas lá. Hoje deixo as minhas pegadas. O vento levar-nos-á a um próximo encontro.