Ela olhava para mim. Os seus olhos claros brilhavam. Aquele tom azulado metia-me medo. Via de longe. Abandonada. Sozinha. Tal como vemos o horizonte e queremos chegar a ele, eu queria chegar a ti. Mas não sabia. Estavas ali, lá, além. Escondias-te em ti mesma. Pensei em libertar-te. Acelerei o passo. Aproximei-me. Com calma. Encolheste-te. Agarraste-te em ti própria. Estavas com medo de te libertares. Analisei o teu rosto coberto. Contemplei os traços do teu corpo. Ali estava ela. Que náusea. Que angústia. Baixei-me. Ficámos frente a frente. Continuavas frágil. Olhei-te. Derreti-me com a tua disponibilidade. Quis tirar-te o pano que te envolvia a face. Não tive coragem. Ias ficar ferida. Eu não queria isso para ti. Sorriste delicadamente pela primeira vez. Senti-me correspondido. Não quis incomodar-te mais. Levantei-me. Com ternura encarei o que me transparecias. Continuei a linha da minha vida. Ao caminhar apeteceu-me olhar para trás. Ver-te mais uma vez. Quando o fiz já não estavas lá. Hoje deixo as minhas pegadas. O vento levar-nos-á a um próximo encontro.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
Barco de remos
Era demanhã cedo. Quando abri a janela senti um calor intenso. O primeiro pensamento foi sair do palheiro. O campo estava ainda mais verde. Eu via um contraste de cores (verde, castanho, azul) que se completavam. O sol estava lá em cima. O vento não se fazia sentir. Desci duas escadas do alpendre. Sentei-me na minha bicicleta antiga, com duas rodas gigantes, um sininho e um cestinho. A minha túnica verde, amarela, laranja, violeta e azul dava-me vida. Comecei a pedalar sem destino. Ao longe pareceu-me ver um lago. Aproximei-me. Era gigante. Encostei a bicicleta a uma árvore. Sentei-me à beira do lago e descalcei os meus sapatos de menina. Olhei para a água e apercebi-me do meu reflexo. Os meus olhos brilhavam. A minha boca parecia frágil. Os cabelos estavam delicados e caiam-me pelo rosto. Estava com uma expressão harmoniosa. Ri-me imenso de me ver a mim mesma. A minha mão apagou essa emoção. Levantei-me. Chapenhei ao longo do lago. Corri iluminada pelo sol e às gargalhadas. De cansaço atirei-me para a relva fofinha. Quando ergui a cabeça vi um barco de remos ao fundo. Estava lá um rapaz e vinha na minha direccção. Fui ao cestinho da bicicleta e tirei a minha máquina fotográfica. Tirei-lhe uma fotografia de longe. Depois, mais de perto. E mais perto ainda. Ele sorria para mim. Convidou-me a entrar para o barco. Entrei sem falar. A seguir, perguntei: "podes ensinar-me a remar?". Ele aproximou-se de mim e ensinou-me. Dei uma gargalhada. Ele olhou-me nos olhos. Tive um arrepiu. Ele voltou a sorrir. Levantei-me no barco. Quis aproveitar aquele momento de liberdade. Ele puxou a minha túnica para si. Caímos na água. Os corpos estavam molhados. Aproximei-me. Ficamos ali a olhar um para o outro a centímetros de distância. Olhávamos com os olhos, com o nariz, com a boca, com os ouvidos, com as mãos, com todos os sentidos. Uma emoção sentida para todo o sempre. Um olhar de prazer...
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